Não me surpreende nada...

Que bom que é Macau assim!

Com tanta gente fora pela Páscoa, as ruas estão transitáveis, tal como já não se vê nesta terra há muitos anos!

Sopas de fitas

Um dos locais tradicionais onde se comia das melhores sopas de fitas, agora abriu um grande restaurante em plena praça do Leal Senado, no edifício do MacDonald's.

Fui lá e não fiquei desapontado.

Desemprego em Macau

Ontem o Secretário para os Assuntos Sociais veio dizer que não esperava que o desemprego subisse acima dos 4% em Macau. No entanto, o desemprego só por si não é um indicador económico muito fiável...

Quantos trabalhadores não residentes já foram despedidos nos últimos seis meses e não aparecem nas estatísticas porque tiveram que voltar para os seus países? E desses, quantos serão que estão agora a passar dificuldades por falta de trabalho e devido às más condições de vida dos seus países?

Não sabemos! Nem temos forma de saber... Já dizia o meu pai, Português de gema: "longe da vista, longe do coração"! Infelizmente, estas pessoas que agora estão longe do coração e das estatísticas do governo, são aquelas a quem deviamos estar agradecidos pelo período de grande crescimento económico de Macau.

Segurança Social

"O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás; pois estrangeiros fostes na terra do Egito."

Livro do Êxodo, 22, 21

Agora todos os residentes que têm empregadas domésticas não residentes, têm que pagar 45 patacas por mês para a segurança social sem que isso beneficie as mesmas de nenhuma maneira. O governo, armado em Pai de todos os residentes, vem dizer que isso é para beneficiar os residentes...

E será que o governo nunca pensou porque é que tantos residentes preferem ter empregadas Filipinas do que locais?

Ora, no meu caso é porque quero que os meus filhos aprendam Inglês desde pequenos. Com os Pais eles podem aprender Português e Cantonês mas durante o dia vão aprendendo Inglês com a empregada.

Ora, pergunto eu ao governo: será que alguma rapariga local que saiba Inglês quer trabalhar como empregada doméstica? E será que as muitas pessoas como eu que preferem uma Filipina para ensinar Inglês aos seus filhos, não estão a beneficiar o futuro da RAEM?

Também conheço muitos estrangeiros que preferem trabalhadoras não residentes por motivos óbvios: as residentes não falam Inglês ou Português e não conseguem receber instruções tão simples como "limpe a casa", "faça uma sopa de arroz", "vá buscar as crianças à escola todos os dias".

Vai daí, como é que o governo pensa que os residentes estão a beneficiar desta medida?

Os trabalhadores não residentes têm direito a que os seus patrões descontem para as suas reformas e esta atitude do governo é vergonhosa e deixa-nos mal a nós, residentes.

Johannes Chan

Que vergonha que senti, como Macaense, com o que se passou na passada sexta feira com o Professor Chan! Mesmo que não estivesse muito familiarizado com a sua obra, o facto de ser o director da Faculdade de Direito da Universidade de Hong Kong, a mais conceituada escola de Direito da RAE vizinha, e de vir proferir uma palestra à Faculdade de Direito da Universidade de Macau, a mais conceituada escola de Direito da nossa RAE, bastou para perceber a gravidade da situação.

Com que fundamentos foi recusada a entrada do Professor Chan?

Este governo está, claramente, a privar a comunidade jurídica de Macau de ouvir novas ideias que nem sequer vêm de muito longe, mas apenas do outro lado do Delta do Rio das Pérolas!

Fui investigar um pouco no sítio da Universidade de Hong Kong e percebi, pela bibliografia publicada pelo Professor Chan, que este se dedica ao estudo dos Direitos Humanos. É destes assuntos que o governo do Dr. Edmund Ho tem medo? Este Professor é que poderia destabilizar o sistema político da nossa pequena SAR?

Tenho a certeza que nem a China Continental iria tão longe como proibir o director da Faculdade de Direito mais prestigiada de Hong Kong de aí proferir uma conferência, o que quer dizer que Macau está, neste momento, mais repressivo que o continente!

É claramente um caso ridículo de se ser mais Papista que o Papa.

Com este caso vieram à tona de água dos média de Hong Kong muitos outros casos semelhantes de casos perfeitamente absurdos de proibição de entrada de cidadãos de Hong Kong em Macau. Até onde irão as autoridades de Hong Kong e Macau para prevenir que isto volte a acontecer?

10 anos depois

Cumprem-se em 2009 10 anos sobre a transferência de soberania e Macau de Portugal para a China. Lembro-me como se fosse hoje do sentimento de tristeza e de abandono que na altura senti. Senti que éramos abandonados à nossa sorte sem que alguma vez tivéssemos sido consultados sobre esta transferência. Senti também que Portugal minimizava as reais intenções da China: a China não queria que Macau prosperasse sobre as antigas tradições de liberdade, queria subjugar Macau como mais uma bandeira no caminho da unificação de toda a "Grande China": Continente, Hong Kong, Macau e Formosa sob a mesma tirania do Partido Comunista Chinês.

Chamaram-me péssimista, profeta da desgraça, velho do Restelo... Disseram-me que Portugal já era e que a China é que é o futuro.

Hoje, é com muita pena que penso que não errei. Gostaria muito que tivesse errado há 10 anos. Gostaria muito que a China tivesse cumprido as promessas que fez a Portugal e aos Macaenses em 1987. Gostaria muito mesmo!

Mas, passados dez anos, sinto-me defraudado!

Talvez não seja bom começar um blog com mágoas, ninguém quer ler mágoas. Cada um tem as suas máguas e não quer viver as dos outros. Mas é com mágoas que inicio este blog. Com mágoas e um desabafo: como eu gostaria que a China cumprisse as suas promessas em Macau! Será que ainda há esperanças disso?